Meditação para o alcance do Samádi

 

Todos os Budas e todos os protetores do verdadeiro Darma são puros
em corpo, fala e mente. Como resultado, são puros em moralidade, samádi e sabedoria.
Dessa forma, conquistam a libertação e a compreensão perfeita.

 

Sutra Mahasamnipata

 

Significado do samádi

Samádi é um termo sânscrito que significa “concentrar-se”. A palavra em chinês para esse conceito tem a conotação também de “estabelecer” ou “firmar”. Samádi denota um estado meditativo caracterizado por tranquila imperturbabilidade. Sensações externas não conseguem perturbar quem esteja em samádi. Esse estado mental sem dualidade é um dos atributos do dharmakaya, o corpo espiritual de um Buda. A sabedoria do Tathagata baseia-se no samádi.

 

Meditadores que sabem como entrar em samádi conquistam grandes poderes. Não se distraem facilmente e conseguem trabalhar com grande energia e determinação. Esse estado peculiar favorece a descoberta da sabedoria e a percepção do próprio Tathagata. A força e a sabedoria ganhas no samádi são as duas mais importantes ferramentas para quem almeja a iluminação.

 

São tão maravilhosos seus efeitos que o samádi se tornou elemento importante de todas as escolas do budismo. A meditação não é uma prática exclusivamente budista. Na época do Buda Shakyamuni (séculos IV-III da Era Comum), muitas pessoas na Índia sabiam meditar. As técnicas de meditação budista começaram a chegar à China no fim do século II da Era Comum e gradualmente se mesclaram com as técnicas locais, produzindo uma tradição de meditação que se enraizou profundamente em ambas as culturas.

 

De acordo com Zong-mi (780-841), Mestre Chan (zen) da Dinastia Tang, existem cinco tipos de samádi:

 

1. Samádi comum

Esse tipo carece de qualquer sabedoria religiosa ou filosófica. Seu valor reside unicamente em sua capacidade de auxiliar na cura doenças e fortalecer a mente. Os indivíduos que praticam esse tipo de samádi ignoram os níveis mais profundos da meditação e, portanto, sua prática não tem poder algum de livrá-los do ciclo de nascimento e morte.


2. Samádi não budista

A prática da meditação pode derivar muitas recompensas e percepções para pessoas que não são budistas. Contudo, como elas não percebem o inerente vazio de todos os fenômenos, não alcançam os níveis mais elevados de compreensão. Sua prática pode levá-las a renascer no paraíso, mas, quando seu carma lá se extinguir, caem novamente nos planos mais inferiores de existência.


3. Samádi hinaiana

O termo hinaiana significa “pequeno veículo”. Samádi hinaiana é expressão utilizada para descrever a prática de budistas que sabem como ajudar a si próprios, mas não têm capacidade ou disposição de ajudar os demais. Esse tipo de samádi é melhor que o comum e que o não budista, por se basear nos ensinamentos do Buda, mas, porque é fundamentalmente individualista, não é o mais elevado.


4. Samádi maaiana

O termo maaiana significa “grande veículo”, expressão que denota a preocupação do praticante budista com o bem-estar dos demais, tanto quanto com o seu próprio. De fato, aquele que chega ao samádi maaiana conhece muita coisa e compreende a natureza da ilusão, da não dualidade, do vazio, da necessidade de compaixão e de todas as outras ideias profundas constantes do ensinamento do Buda. Seu samádi beneficia a si próprio e aos demais simultaneamente. É um estado grandioso.


5. Samádi supremo

Este é o samádi dos Budas; todos os Budas do universo o conhecem. É o mais puro e sublime estado de consciência possível.

 

Quem quiser realizar alguma coisa neste mundo deve empregar
a mente como um todo ou não terá sucesso.
Não seria então muito mais importante praticar o samádi no profundo caminho do Buda?

 

Tratado sobre a Perfeição da Grande Sabedoria

 

 

Como alcançar o samádi

A melhor forma de chegar ao samádi é aprendê-lo através da meditação sentada. Essa prática, quando realizada por tempo suficientemente longo, ensina o praticante a entrar em samádi enquanto caminha – seja por um bosque, seja acompanhando um regato na montanha ou atravessando uma campina. Logo que essa capacidade é conquistada, torna-se possível entrar em samádi mesmo numa rua movimentada, no meio de uma cidade barulhenta. No início, os estados de samádi mostram-se frágeis, mas se fortalecem muito com a prática.

 

Para começar, aprende-se a entrar em samádi em um ambiente tranquilo, com poucas distrações. A luminosidade deve ser suave, mas sem mergulhar o ambiente em total escuridão, pois isso induziria ao sono. Pode-se ter um altar com a imagem do Buda na sala de meditação, fazer reverência e acender incenso antes da prática. Deve-se acalmar os pensamentos ao acender o incenso e focar a atenção no Buda. Não convém que o local escolhido para meditar seja exposto ao vento nem ao sol; e a sala não deve ser úmida. O objetivo da meditação é elevar a consciência, e não provocar doenças.

 

É indicado usar roupas largas e confortáveis para meditar. O estômago não deve estar cheio. Depois de uma refeição, é melhor esperar no mínimo uma hora antes de meditar. Para evitar sonolência, a pessoa não deve meditar se estiver cansada.

 

Em geral, a meditação envolve três áreas: o corpo, a respiração e a mente. Aprendendo a controlar e tranquilizar esses três elementos do nosso ser, aprendemos a perceber a impressionante beleza do Buda que já habita em nosso interior.

 

A grandeza do samádi assemelha-se à grandeza de um rei, porque o samádi tudo governa.

Sutra Mahaprajnaparamita

 

 

Do livro Purificando a Mente – A meditação no Budismo Chinês
Venerável Mestre Hsing Yün, Editora de Cultura, São Paulo, maio de 2004.